O horário de almoço já estava acabando e eu ainda não tinha terminado minha refeição, embora eu estivesse mais preocupado com os acontecimentos de Castelobruxo e dos atos do Círculo do que propriamente com meu almoço, não fiquei feliz em ter de me apressar para terminar de comer, mas eu não tinha outra opção. Saí apressado do restaurante, eu não estava muito longe mas ainda sim era uma boa caminhada até a COMASUL. O sol das 14 horas fazia que o caminho fosse muito mais longo do que de fato era, continuei caminhando sob aquele calor desconfortável. alguém deveria mudar os padrões de roupa nessa Confederação, quem consegue sobreviver de terno nesse forno, é impossível.
O Átrio já estava vazio, muito provavelmente a maioria dos funcionárias já estavam em suas respectivas salas realizando seus afazeres. Eu estava indo direto para meu gabinete quando fui interrompido pelo mergulho de uma arara-azul que cortou minha frente, a ave não fez nada além de soltar um pequeno envelope sobre mim. Após pegá-lo pude ver que não havia um remetente, somente o destinatário: Ian Ruzzo. Eu não mais recebia cartas desde que havia deixado o cargo de Diplomata a alguns meses atrás. Entretanto dessa vez era diferente, alguém teria esquecido de se identificar ou gostaria de manter sua identidade em segredo? De qualquer forma eu iria ler essa carta, mas não ali no meio do Átrio, então guardei-a no bolso interno do meu terno e segui para minha sala.
Sobre minha mesa estavam espalhados os inúmeros artigos, notícias, depoimentos sobre os últimos ocorridos, normalmente minha mesa sempre ficava organizada, mas nesses últimos tempos estou tão imerso que não mais me dou o luxo de organizar as coisas, apenas deixo elas se amontoarem. Eu não pretendia organizá-la hoje, mas não me senti confortável quando sentei e voltei a olhar para mesa, aquilo estava deplorável. Tirei alguns minutos para colocar tudo em ordem, agrupar as coisas do caso de Beatriz, separando dos documentos que envolviam o sequestro de Victor. Quando finalmente terminei de arrumar as coisas, retirei meu terno o colocando sobre o acosto de minha cadeira, durante o movimento a carta que estava no bolso interior acabou caindo no chão ao lado da cadeira.

-Eu já havia me esquecido de você. Vamos ver o que me conta. - Disse enquanto me inclinava para pegar o envelope caído.

Quando o conteúdo daquela carta veio à tona, não era mais do que um curto texto, sucinto mas muito bem definido, ele passava exatamente aquilo que o remetente deveria querer me informar. “Beatriz Rodríguez usava poção polissuco para se passar por um aluno e conseguir frequentar Castelobruxo. O nome do aluno que ela fingir ser é Nox, como o feitiço. Ela não estava fazendo documentário, ela estava usando o território das caiporas para ter acesso ao castelo!”. Embora eu tivesse tido um pouco de dificuldade para entender por conta da letra levemente estabanada, pude ler completamente a mensagem. Ela implicava acusações fortes contra a senhorita Rodriguez, o que ela estaria fazendo em Castelobruxo, buscava o que na instituição? De certo não eram coisas lícitas, afinal se fossem ela não precisaria de uma poção polissuco para entrar lá. Isso explicaria o motivo dela conseguir transitar pelo castelo sem ser notada. Mas o que me deixa ainda mais ressabiado é saber que enviou esta carta, qual o motivo para tal? Não me restam dúvidas que meu correspondente anônimo se encontra dentro da escola, seria um Aluno? Funcionário? Não sei, ele não me deu mais do que essas informações que eu preciso averiguar o quão antes, pois se for verdade o conteúdo desta carta, muitas novas dúvidas vêm à tona.

-Mais um capítulo desta quase infinita epopeia. - Suspirei enquanto guardava a carta de volta ao bolso do terno, para assim poder continuar com meu trabalho.


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