O aviso de Verônica foi entregue a Bianca em seu dormitório por uma arara azul naquela tarde de domingo. A confederação finalmente começaria a agir apropriadamente frente ao atentado a vida de Beatriz. Enfim começariam a interrogar os possíveis suspeitos ao invés de continuar analisando amostras de lama para encontrar algo. Atitude louvável de Roberto começar a fazer seu trabalho com pulso firme e sem medo do que a mídia diria, ainda mais dada a situação política atual. Pelo menos isso mostrava que ainda lhe restava algum caráter, né? Pouco, mas sim.

Assim que terminou de ler o memorando da professora, Bianca escreveu outro a uma aluna específica. A buscaria em seus dormitório pessoalmente, mas sozinha seria quase impossível conseguir encontra-la em Ybirá. O bilhete era endereçado a Alice, a presidente do CA envolvida até o pescoço em toda a confusão. Pedia que a garota comparecesse a sua sala imediatamente e que levasse junto Luca Coelho — seu ex-estagiário —, o witchgrammer metido a jornalista que fez questão de postar a foto de um cadáver dentro da escola sem antes procurar saber do que se tratava. Preferiu não se identificar no bilhete, poderia ser interceptado. Alice saberia de quem se tratava depois da conversa franca que tiveram no mês anterior quando Matteo guiou a docente até os menores infratores. Ela tinha que saber, isso foi combinado naquele dia.

Assim que a ave carregou o bilhete pela janela, Bianca se trocou e saiu abriu a porta de seu aposento que levava a sua sala. Ali, no centro, desenhou um triângulo grane o suficiente para caber os dois alunos e posicionou uma vela em cada ponta do mesmo. Adiantou a preparação do ritual da memória deixando sobre sua mesa os outros objetos necessários para a performance. Não muito tempo depois os dois alunos bateram à porta. — Entre. — Disse calma, já sentada em sua cadeira atrás da mesa ao fundo da sala.

— Ignorem o símbolo no chão e se sentem, precisamos conversar. — Com expressão de não muito satisfeitos com a situação, ambos sentaram-se em frente a mesa da professora para ouvir o que ela tinha a falar. — Fui informada que a comasul virá à escola amanhã. Depois de tanto tempo, resolveram dar continuidade na investigação empacada e por isso chamei vocês aqui. — A loira tentava permanecer o mais calma possível frente aos alunos. — Quero dizer que: talvez vocês sejam interrogados. Você, Alice, por ser presidente do CA. E você, Luca, por ter postado aquela maldita foto. Como prometido, vou proteger a integridade de vocês, mas para isso preciso modificar as suas memórias. — Ao finalizar sua frase aconteceu justamente o que previu. Luca enlouqueceu dizendo que ninguém entraria em sua cabeça e precisou ser acalmado por um Petrificus Totalus bem conjurado.

Os cabelos da garota Bissoli não paravam em uma única dor desde o início da conversa com a professora. Fluíam junto com suas emoções, provavelmente, e agora estavam roxos. Ela não era do tipo escandaloso como seu amigo petrificado, muito pelo contrário. Era sensata até demais pra sua pouca idade. — Vocês podem ser expulsos se descobriram que estiveram na cena do crime. Mortos, até. — Esperava que isso explicasse sua atitude de petrificar um aluno. — Onde estávamos? Ah, suas memórias. Me ajude colocar ele aqui, Alice. — Completou, levantando-se de sua mesa.

As duas carregaram Luca até o centro do triângulo desenhado anteriormente e o colocaram deitado com a cabeça virada para uma das pontas. — Preciso que você também se deite, Alice. Vai ser rápido e indolor. — Informou ao ver o roxo dos cabelos da garota se intensificarem ainda mais. Teria suas memórias remexidas por bem ou por mal, o melhor era que aceitasse de bom grado já que a docente não aparentava querer fazer mal. Assim que a presidente do CA se deitou de olhos fechados no centro do triângulo a professora — com um sino e dois frascos nas mãos — começou a performar seu ritual.