— Eu percebi mesmo. Do nada sumiu, nem tive tempo de me despedir. Mas acho que esse é um ótimo super-poder, deve te ajudar a se livrar de muitas enrrascadas. — disse brincando sobre o fato dela ser uma mestre em fugir dos locais. — Ah pode deixar, não vou avisar eles não, pra ser sincero não faço ideia de onde estão os demais. — falei enquanto erguia o pescoço e procurava de maneira rápida, sem intenção alguma de encontrar algum companheiro de seção seis.

Por algum motivo eu fico muito desconcertado na presença de Jhessy, foi a mesma coisa lá no Sorte Líquida, na verdade mesmo, eu sei o que é, mas é que não sei como colocar isso para fora, às vezes pode ser apenas uma loucura da minha cabeça, embora eu realmente tenha certeza do que eu sinto. — Eu poderia ter vindo mais cedo mesmo, mas tive uns contratempos para sair da cama, trágico. — abriu um largo sorriso. — Mas era só ter me avisado, eu viria com prazer ajudar, não fiz nada o dia inteiro mesmo. — Era verdade, felizmente minha folga caiu no dia da virada do ano, coisa que veio muito a calhar, pois assim posso aproveitar melhor a noite sem me preocupar em ter que acordar cedo no dia seguinte para ir até a COMASUL.

Acho que meu comentário a desconcertou tanto quanto a presença dela me desconcerta. Não era essa a minha intenção, era para ter soado como uma brincadeira, mas talvez eu tenha acertado em cheio alguma coisa. — Estava?! — Indaguei meio sem jeito. Bem, isso comprova o ponto anterior de que muito provavelmente eu era o motivo dela ter ido embora correndo aquele dia. — Pelo menos está bem. — Jhessy continuou, disse que precisava me contar algo, curiosamente eu também precisava. E justamente quando ela foi falar, a contagem começou, mas que beleza. — Sim, deixa isso passar. — afirmei enquanto desviava o olhar para o relógio que surgia no topo do estádio.

Quando voltei a focar na loira em minha frente, ela já estava me olhando, um olhar um tanto curioso eu diria. — Eu até esqueci desse costume, branco significa paz, né? Então acho que deveria ter vindo de vermelho?!  Acho que é essa a cor. — Não sou muito apegado a essas coisas, mas em quase todo lugar o vermelho simboliza o amor, não podia ser diferente, pelo amor de Oyá, não me decepcione tradição. — Ótima pergunta. Não faço ideia, talvez passe sem nada mesmo. — disse ponderando as possibilidades que Jhessy havia apresentado. Se eu estava surpreso por tê-la encontrado, pode desconsiderar, essa frase dita por ela simplesmente me deixou atônito. Senti minhas bochechas corarem, meu rosto estava pegando fogo. Pisquei forte, queria ter certeza que não estava cochilando feito um bebê na minha cama, pois parecia muito a cena de um sonho. Um instante de silêncio tomou conta da conversa, eu não sabia o que falar. O relógio iniciou a contagem regressiva de alguns segundos, lá ia ele. 10, 9, 8. Eu tinha pouquíssimo tempo. Olhei rapidamente para ele, e os números continuavam a descer. 7, 6, 5. — Espero muito que eu não esteja sonhando. — afirmei enquanto voltava o olhar para Jhessy, quando ouvi o fim da contagem. Bem, se esse fosse um sonho, talvez não tenha final melhor do que este, correto?! Me aproximei dela, sem jeito, com os olhos fechados e até meio trêmulo, passando a mão por de trás do corpo dela, trouxe minha cabeça para mais perto dela, até que eu pudesse beijá-la. Abri o olho, e não, não estava sonhando. Até abri um pequeno sorriso durante o beijo, realmente não estava acreditando. É, seja bem-vindo, 2021.