Decidiu por não olhar a foto por agora; haviam tarefas mais urgentes a serem cumpridas. Se tratando de Bianca, era impossível não considerar uma condição extra em cada uma de suas aulas. Helena não ficou surpresa com o porém da tarefa, de fato, achou interessante que, embora não fosse um oponente propriamente dito, ao menos teriam uma réplica de suas ações. Não que Margot gostasse de correr riscos — desde o ano anterior, porém, ela se convencera de que situações que a forçassem a tal fossem relativamente como uma sombra, sempre colada a seus calcanhares. Lena aguardou com paciência conforme os colegas começaram a atacar os alvos, as vozes e feitiços formando uma cacofonia confusa no ambiente conforme trabalhavam.

Helena os abafou, como se nada mais no mundo importasse além do alvo bicolor à sua frente. Por alguns momentos, ela se ocupou em considerar suas opções. Os feitiços que poderiam usar eram potencialmente... nocivos, o que seria ótimo se o objetivo fosse, unicamente, atingir o alvo e marcar um ponto. Ela teria uma chance para atacar, uma para defender.

Sua defesa só teria que ser consideravelmente maior do que seu ataque — e ela teria que contar com o acaso para isso mais do que tudo, visto que feitiços nem sempre obedeciam a vontade do bruxo —; um sorriso singelo, mas vazio, formou-se na face pálida da Alcaide conforme media as possibilidades. Uma voz rebelde e sem qualquer tipo de freio moral indicou que ela poderia se aproveitar de algumas explosões, exceto que ela estaria se explodindo como consequência direta. Desarmar seria a opção mais segura em caso da falha na defesa, mas Helena queria algo mais destrutivo do que isso, de início.

Mirou a ponta da varinha curta para o alvo, tratando de pronunciar com vontade — Fodio! — ela não esperaria sequer pelo sinal de retorno do feitiço antes de conjurar uma barreira em torno de si, é claro que não era grande coisa sentir uma dor insuportável, mas hey, evitemos, certo? — Fianto Duri! — o feitiço foi pronunciado alto e claro, mas não em um tom que chegasse próximo a um grito.  

Observações:

Ah, o ataque saíra bem, melhor do que ela esperava:  Helena observou o raio esbranquiçado indo direto em direção ao alvo bicolor, visível. Agora, a barreira que ela tentara conjurar... Bem, em termos, ela conseguira formular a bolha que poderia servir de barreira para o ataque refletido pelo alvo, a coisa translúcida até estava ali, piscando como uma luz defeituosa prestes a queimar. Mas, aos olhos da Alcaide, não seria bem o bastante para evitar que ela sofresse a dor insuportável fornecida pelo feitiço Fodio. Ela observou, como em câmera lenta, o raio esbranquiçado retornando diretamente para ela.

Nessa situação, ela poderia fazer o que? Sair correndo para tentar não receber o feitiço diretamente? Sem tempo, não daria certo. Ela só ficou lá parada, a mente em branco por um momento, a mão ainda segurava a varinha com firmeza, mas o braço destro parecia nem pertencer ao próprio corpo, pendendo frouxo em sua lateral; a mente normalmente cheia esvaziando aos poucos e nos segundos em que o feitiço se aproximava.

Esperou a dor, esperou e esperou. Mas nunca veio. O feitiço literalmente se dissipou no ar e jamais chegou a acertar a parca barreira. Lena olhou ao redor e encontrou a professora estoicamente parada próxima, imperturbável, um braço estendido na direção de onde o feitiço estava vindo, a varinha firme em sua mão; a outra, pousada sobre a barriga da já avançada gravidez. Helena não evitou o sorriso envergonhado direcionado à docente, e coçou a nuca sem bem palavras para justificar o branco e a falta de ação de sua parte.

— Bom ataque, mas é melhor treinar um pouco a defesa, querida. Pode ir — disse Bianca simplesmente e se afastou, observando os outros que ainda faziam a tarefa. Lena se apressou em direção à própria mochila e tratou de guardar o material, se atrapalhando com o zíper quando tentava fecha-la. Talvez devesse investir numa mochila com feitiço indetectável de extensão, só para evitar as coisas enganchando no fecho, para garantir. Tratou de colocar a bolsa às costas tão logo resolveu o problema e tratou de sair da sala.

Já no corredor, lembrou da foto da criatura no bolso traseiro da calça, ao ver o que a aguadava para aula do mês seguinte, Helena sentiu o sangue drenado de seu rosto por um momento, a frase lida de um dos papéis retirado da caixa, meses antes, ecoando em sua mente. — Ah, porra. — xingou, sem se importar se alguém a tivesse ouvido no espaçoso corredor — ninguém a culparia por falar um palavrão por causa de uma tarefa. Só um legilimente saberia o real motivo. Resignada, Helena se pôs a caminhar para a aula do próximo período. “Bem, vamos descobrir, não é mesmo?”.

Observações: