A primeira aula de feitiços iniciou-se com a diretora fazendo uma pequena introdução, explicando que existem muitas formas de defesa para um ataque, tanto físicas quanto mágicas, e se aprofundando no que diz respeito a magia. O feitiço inicial de defesa, talvez o mais básico, é o Protego, aprendido pela classe alguns anos antes, quando ainda nem bem sabiam segurar suas varinhas corretamente. A srta. Dourado continuou falando sobre feitiços e como os mais simples são utilizados para elaboração de outros mais complexos, mais fortes, e isso se dá pelo acréscimo de elementos e até rituais.

Embora o próprio Protego servisse de base para novos feitiços, não dava para afirmar se os demais que seriam aprendidos nas próximas aulas também eram baseados neste. O intuito era a defesa do bruxo que conjuraria o feitiço, mas a forma como ele faria isso - como moveria a varinha, seus próprios encantamentos e sua forma única é que fariam a diferença.

A mestra, após explicar a importância da defesa e frisar que todos os alunos precisam saber se defender a qualquer custo, explicou a didática a ser seguida: o mês inteiro seria focado nesse tipo de feitiço, e cada aluno seria testado diretamente por ela, para garantir que tivessem de fato aprendido. Lorena sentiu um pequeno arrepio nervoso percorrer seu corpo, mas não havia tempo para nervosismo. Assim sendo, abriu o livro de feitiços e reviu como utilizar protego e protego maxima, feitiços que seriam testados com a diretora no momento da aula prática. — Protego!— lançou ela, defendendo-se com facilidade. Era um feitiço que havia aprendido muito tempo atrás, mas que já havia utilizado bastante e já possuía certa destreza em aplicar. Em seguida a professora jogou, de surpresa, um objeto de sua mesa contra a aluna, testando sua agilidade. Esse objeto ela poderia ter removido de sua direção somente usando a telecinese, mas estava ali para aprender como os demais, e por isso foi ágil na hora de usar a varinha para usar novamente o feitiço protego.

Quando chegara a sua vez novamente, só que agora para protego maxima, a jovem soube que não se daria assim tão bem. Sentia, e era humilde para admitir a si mesma, ao menos, que seria um obstáculo. Não era um mero feitiço do primeiro ano. Era do sexto, exatamente do ano em que estava. Realizá-lo corretamente logo de cara seria incrível, mas ela não estava contando com isso. Quando chegara sua vez, mesmo sem muita fé em si mesma, lançou-o. — Protego Maxima! — proferiu, mas a barreira que se criou era inferior a que deveria ter se criado. Para dever de casa, ela precisaria treinar mais aquele feitiço. Outra aluna também havia tido problemas na força com que a barreira se formara, então a professora lembrou-as que o feitiço poderia ser usado de forma colaborativa. E assim, em uníssono, ambas as garotas lançaram o feitiço novamente, desta vez tendo o resultado esperado. Embora não tivessem comemorado visivelmente, um pequeno sorriso no canto dos lábios de Lorena ostentava a satisfação de não ter sido um completo fracasso.

Com a promessa de treinarem mais até a próxima aula, a turma fora dispensada.

Na aula de terça haviam treinado o protego e o protego maxima, mas Lora não havia se saído como planejara na atuação deste. Para resolver o problema, convocou a prima para ajudá-la, nas horas vagas, a treinar o dito cujo. E embora tivessem transcorrido somente dois dias, estava apta a realizar o feitiço novamente em frente a professora. Fez questão, inclusive, de chegar mais cedo na sala de aula e pedir com muita incistência para que a professora a testasse novamente. A diretora o fez, e o resultado saíra exatamente como o planejado. Lorena estava apta a usar protego maxima em outras situações. Mas a dica da professora permanecera: continuar treinando, afinal, tratava-se de um feitiço novo para a garota, que agradeceu e foi sentar-se junto aos colegas.

A mestra fez uma explicação sobre o feitiço que treinariam naquela tarde. Seria um turno inteiro dedicado somente a ele, então era dever de todos o fazerem com destreza. O feitiço era protego horribilis, também novidade para os alunos. Lorena anotou em seu pergaminho que o feitiço protegia áreas, e até mesmo pessoas, de pragas e rituais. Também era um feitiço que poderia ser feito de forma colaborativa. Enquanto escrevia sobre como o feitiço funcionava, só conseguia pensar em como ele haveria de ser testado ali, em sala de aula. A professora lançaria uma praga neles? Um ritual? E se ocorresse errado, quantos ali estariam fazendo acampamento no ambulatório?

Como quem lê a mente dos alunos, a srta. Dourado explicou que somente testaria o balançar das mãos e a forma como a varinha seria apontada, se o feitiço iria ser conjurado, mas que não havia praga algum sendo lançada contra eles afim de evitar abarrotar a ala hospitalar logo na segunda aula da disciplina. Lora quase deixou um suspiro escapar dos lábios. Não que não confiasse em si mesma naquele feitiço em específico, não depois de ter passado horas treinando o antigo, mas a ideia de receber uma praga era de angustiar.

Dessa vez, fora a primeira na fila. Encarou a professora com uma segurança que ela não sabia se de fato era real, e balançou a varinha como fora ensinada. Com segurança, apontou a varinha para o fundo da classe e lançou: — Protego Horribilis! — E assim, como quem se protege de uma praga, Lora respirou alivida ao ser elogiada pela professora. Havia executado o feitiço com maestria. Por fora ostentava segurança novamente, mas por dentro parecia uma menina de 6 anos que acabara de ganhar a boneca mais descolada de todas.

Após cada um de seus colegas irem treinando, e treinando novamente os que não haviam obtido sucesso, todos foram novamente liberados. Agora tinham mais alguns dias antes de retornarem aquela sala para novos apuros.

A terceira aula foi a que Lorena mais gostara de mais participar. Algo dentro dela diria que aquele feitiço poderia vir a calhar muito bem no futuro. Só o tempo diria, mas ela não arriscaria a chance de se preparar.

A professora assumira a parte teórica da aula falando sobre o feitiço daquela tarde. Tratava-se, no entendimento de Lora, de uma espécie de bolha que protegeria um determinado lugar. A proteção seria de forma visual, impedindo que o inimigo visse quem estava dentro da barreira. Porém, esta não era tão eficaz pois qualquer ruído sonoro ou até cheiros poderiam ser sentidos normalmente pelo atacante. Ainda assim, parecia incrível.

Formaram-se trios. Lorena unira-se com Mavis e Arón, e eles testariam o feitiço cada um de uma vez. Lora começou, provavelmente por estar muito empolgada com ele. Apontou a varinha para cima, planejando que a tal bolha ou barreira os cobrisse, e não o alvo que iriam atacar ou se proteger - caso apontasse para ele. Na primeira tentativa, os colegas ainda conseguiam enxergar os três dentro da suposta bolha. Fora um erro dolorido que roubara risadinhas debochadas dos colegas. Movida pela força da teimosia, quis tentar novamente. Apontou a varinha para cima do trio, lançando o Cave Inimicum com muita determinação, e dessa vez as risadas se transformaram em pequenos "oh" de espanto. O feitiço funcionara perfeitamente, e se algum dia viesse a calhar, ele voltaria a funcionar e talvez a salvasse de alguma enrascada.